Chega uma hora em que você se cansa de contar carneiros. O silêncio penetra por seu corpo mas o sono não vem. A luz está apagada, mas você percebe que não enxerga menos por causa disso, na verdade, enxerga mais do que deveria. As horas passam, coisas se mexem, se transformam e o mundo gira. Sei que é difícil crer no que os olhos não podem ver, mas nada é como parece ser.

domingo, 3 de abril de 2011

É Chegada a Hora


Cheguei correndo na sala de minha casa. Ainda ofegante, comecei a fechar todas as janelas e portas que encontrava. Minha mãe e meu irmão estavam sentados no sofá de linho azul e interromperam a conversa quando o aposento começou a mergulhar na escuridão:

_ O que é isso? O que está fazendo? -Perguntou minha mãe.
_ Ele -fechei a última janela com uma batida forte- está vindo.

Minha mãe e irmão trocaram olhares aflitos e começaram a correr por todos os lados, desesperados, preparando tudo para o momento certo. Eu estava imóvel, sem saber qual seria meu próximo passo. Pra falar a verdade, acho que nem adiantava pensar, pois acabaria dando errado, de qualquer forma.
Coloquei a mão no bolso e senti falta de minha espada. Ela tinha ficado para trás na última luta que tive com um monstro, em uma caverna. Quando soube que o maior perigo de todos se aproximava da cidade e, acima de tudo, de minha família, deixei tudo para trás, inclusive a espada e corri para casa.
Escutei passos vindos do andar de baixo. Abri a porta e já ia descer quando, ao pé da escada surgiu meu pai, acompanhado de meus amigos. Eles subiram apressados a escada e meu pai me abraçou, desejando boa sorte.
Nesse instante, uma luz vermelha passou por entre as frestas das janelas da sala. Todos ficamos paralisados por alguns segundos. A inconfundível sensação de desespero, comum para quem estivesse na presença daquele ser, passou por nós. Senti que, no fim, acabaria perdendo tudo, mas não deixaria de lutar por causa disso:
_ Não façam nenhum barulho enquanto ele estiver por perto. Pode ser a última coisa que farão na vida. -Disse eu a meus pais e a meu irmão.
Os três desceram, abraçados, para o andar de baixo. Minha mãe parou um instante, olhou para mim e, com lágrimas nos olhos, disse baixinho:
_Você vai conseguir, meu filho.
Eu assenti e eles sumiram de vista. Olhei para meus amigos, que já estavam com suas armas em posição e disse:
_Muito bem. É chegada a hora.
E com alguns movimentos estranhos de sua mão, minha amiga abriu a porta da frente. O ar quente da tarde roçou nossos rostos. A luz vermelha inundou o piso de entrada. O ser mais terrível de todos, antes de costas, virou-se com o barulho da porta e agora nos encarava. Seus olhos cintilaram de ódio.

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